Na Espanha, algumas uvas carregam tradição milenar e fama internacional — Tempranillo, Garnacha, Albariño. Outras, como a Mencía, percorrem um caminho mais silencioso, quase secreto, mas profundamente sedutor.

Por muito tempo, a Mencía foi vista como uma casta local, acanhada, restrita às encostas frescas da Galícia e do Bierzo. Mas bastou que olhos atentos a revissem sob uma nova ótica para que ela florescesse — e revelasse uma alma inesperadamente elegante. Hoje, muitos a chamam de a Pinot Noir da Espanha. E com razão.

Estudos genéticos indicam que ela está estreitamente ligada à uva Jaen do Dão, em Portugal, compartilhando ancestralidade e características sensoriais. Ambas surgem em regiões de clima atlântico, sobre solos graníticos. Registros mostram que a Mencía foi levada para o Dão por peregrinos do caminho de Santiago de Compostela, que passa pela região de Bierzo.

Com sua acidez vibrante, taninos delicados e perfis aromáticos que combinam flores, ervas e frutas vermelhas frescas, a Mencía é uma uva de paisagem. Traduz o lugar onde nasce com precisão. A Mencía, antes tímida, hoje brilha. Sem precisar de maquiagem, sem sobreposição de barrica ou artifícios. Apenas uva, solo e respeito.

Tinto elaborado exclusivamente a partir de Mencía, sem passagem por madeira. Sempre consistente, exibe frutas vermelhas e negras, maduras no ponto certo, envoltas por notas florais, de ervas e de especiarias doces, tudo apoiado por vibrante acidez e por taninos tensos, que conferem fluidez e profundidade ao vinho. Tem final cativante e persistente, com toques terrosos, de alcaçuz, de amoras, de ameixas e de grafite.

Este exemplar recebeu AD 92 pts pela Revista ADEGA.