🍇 O Piemonte que poucos conhecem.

No imaginário coletivo, o Piemonte é a terra dos gigantes — Barolo e Barbaresco, nomes que soam como sinônimos de poder e prestígio. Mas há um Piemonte menos falado, mais silencioso, onde a Nebbiolo revela uma faceta ainda mais rara: firme, vertical, mineral e com alma montanhesca.

Ao norte, longe das colinas de Langhe, está Gattinara. Uma denominação histórica que, em tempos antigos, rivalizava em fama com os grandes vinhos da Borgonha. Ali, no sopé dos Alpes, o clima é mais frio, os solos são rochosos, ácidos, repletos de ferro e minerais vulcânicos. A viticultura é heroica, moldada por pequenos terraços e encostas difíceis de trabalhar — um verdadeiro ato de resistência e devoção.

A Nebbiolo, uva de difícil cultivo e maturação tardia, encontra em Gattinara um habitat distinto. Ela perde um pouco do volume e da opulência que apresenta no sul, mas ganha em pureza e longevidade. Seus vinhos, de acidez cortante e taninos finíssimos, desafiam o tempo com elegância. São rótulos que não gritam: sussurram, persistem, permanecem.

Na tradição piemontesa, essa discrição é virtude. O vinho não é feito para impressionar à primeira taça, mas para se revelar lentamente — como uma conversa profunda ao pé da lareira, que começa com timidez e termina em fascínio.

Tinto elaborado exclusivamente a partir de Nebbiolo, com estágio de 36 meses, tanto barricas em carvalho francês, quanto em botti do leste europeu. Mais uma ótima safra desse vinho, que mostra frutas vermelhas maduras, no ponto certo, acompanhadas de notas terrosas, de ervas frescas, de flores e de especiarias, com sua acidez vibrante e seus taninos firmes e de textura lembrando giz, conferindo fluidez e profundidade ao vinho. Tem final austero e persistente, com toques de rosas, de cerejas e de tabaco.

Este exemplar recebeu AD 93 pts pela Revista ADEGA.