🍇Dupla poda: o segredo por trás dos grandes vinhos de inverno.
Durante décadas, a viticultura brasileira conviveu com um desafio recorrente: o clima do Sudeste, marcado por verões chuvosos e invernos secos, parecia incompatível com a produção de vinhos finos de excelência. Foi preciso inverter o calendário — literalmente — para revelar todo o potencial da região. Assim nasceu a dupla poda, ou poda invertida, uma prática que vem transformando paisagens e paradigmas no vinho nacional.
O método, desenvolvido pela EPAMIG em Minas Gerais, consiste em realizar duas podas no ciclo da videira. A primeira, no final do inverno (agosto), estimula um crescimento vegetativo sem frutificação. A segunda, no verão (janeiro), interrompe esse ciclo e induz a planta a brotar novamente, desta vez com cachos que se desenvolverão e amadurecerão no inverno seguinte — período de céu limpo, amplitude térmica elevada e risco mínimo de doenças fúngicas.
Ao deslocar a colheita para os meses de junho a agosto, a dupla poda alinha o ciclo da videira às condições ideais do terroir tropical de altitude. Isso possibilita maturação plena das uvas, maior concentração aromática e fenólica, além de níveis de acidez equilibrados. O resultado são vinhos mais estruturados, frescos e expressivos, comparáveis em qualidade aos produzidos em regiões clássicas do mundo.
Mais do que uma inovação técnica, a dupla poda é a expressão de uma viticultura de adaptação e inteligência climática, que não busca replicar modelos europeus, mas sim valorizar a singularidade brasileira.
Tinto de colheita de inverno elaborado exclusivamente a partir de uvas Syrah, provenientes de uma seleção de suas melhores parcelas cultivadas em Sacramento, na Serra da Canastra, Minas Gerais, a cerca de 1.100 metros de altitude, com fermentação em tanques abertos (60% cachos inteiros) e posterior estágio em recipientes de cerâmica (clayver). Destaca-se pelo perfil vivaz das frutas vermelhas e negras frescas, com sua vigorosa acidez e seus taninos firmes e tensos aportando fluidez e profundidade ao vinho. De bom corpo e suculento, tem final persistente, com toques de amoras, de ameixas, florais, de ervas, de especiarias picantes e terrosos.
Este colheita de inverno recebeu AD 93 pontos pela Revista ADEGA e 93 pontos por Patricio Tapia, sendo eleito como Melhor Tinto do Sudeste e do Brasil no Guia Descorchados 2025.

